Iván Zamorano foi um dos melhores atacantes sul-americanos da história. Para ele, marcar gols, com os pés ou com a cabeça, sempre foi fácil e, assim, se tornou ídolo por onde passou. O chileno concluiu a extensa passagem pela Europa vestindo nerazzurro em Milão. Na Inter, gols, carisma e um título sendo decisivo fizeram com que “Bam Bam” ficasse para sempre nos corações interistas. Aliás, o curioso apelido foi dado pelo jornalista Juan Spinosa Cataldo, que visava dar mais sonoridade ao nome do atacante. Antes de ser apelidado, Zamorano foi consultado, e imediatamente aprovou a alcunha que o acompanharia por toda a carreira.
A trajetória do chileno não é muito diferente daquelas que ouvimos todos os dias no Brasil. Nascido em família muito pobre, Zamorano ainda perdeu o pai aos 13 anos, o que só dificultou mais sua caminhada. Porém, mesmo com a morte do grande incentivador, o sonho de ser jogador de futebol não se apagou. Ainda criança, começou a jogar no Benito Juárez, onde deu seus primeiros passos como zagueiro, mas logo passou a se destacar pelo instinto artilheiro e se tornou atacante.
Aos 16 anos, o Cobresal, clube de um acampamento mineiro no deserto do Atacama, contratou o jogador, que atuaria por dez dólares mensais. A simplicidade fez que, com o primeiro salário, o atacante comprasse uma calça jeans Ellus a prazo – um sonho de muito tempo. Mas Zamorano deu sinais de que seria um craque, quando foi emprestado ao Cobreandino, onde jogou a segunda divisão chilena e marcou 27 gols em 29 partidas, desempenho decisivo para o título da equipe. O atacante voltou a um reforçado Cobresal e foi relevante na maior conquista da história do clube, a Copa Chile de 1987. “Bam Bam” marcou 13 gols em 15 partidas e, na final contra o Colo-Colo, fez o primeiro da vitória por 2 a 0.
Um ano depois do título, o Bologna veio buscá-lo, mas o chileno jamais atuou pela equipe italiana. Fez um teste na Emília-Romanha juntamente com o seu compatriota Hugo Rubio, mas o time de Gigi Maifredi preferiu apostar no atacante mais experiente, que fracassou na passagem pela Itália. Zamorano acabou repassado ao St. Gallen. Na Suíça, em dois anos, marcou 37 gols e conseguiu dar mais um passo à frente na carreira. O chileno Vicente Cantatore, que treinava o Sevilla, pediu a contratação do compatriota. O clube não se arrepende da compra, pois Zamorano anotou 21 vezes em 59 partidas pelos rojiblancos e, depois de duas temporadas, acabou vendido ao Real Madrid por mais de 5 milhões de doláres – à época, um valor altíssimo.
Sobre a transferência há uma história muito curiosa. A família estava reunida para o casamento civil da irmã de Iván e o telefone da casa tocou. O atacante atendeu e, do outro lado da linha, estava seu representante com a notícia: “agora você é jogador do Real Madrid”. A partir daí, os brindes deixaram de ser para o novo casal e, sim, para a nova arma madridista.
Zamorano teve grande sintonia com Djorkaeff (Arquivo/Inter)
“Bam Bam” se concretizou como estrela mundial e ganhou títulos vestindo a camisa blanca. O chileno começou vencendo a Copa del Rey 1992-93. No início da temporada seguinte, venceu a Supercopa sobre o rival Barcelona e Zamorano anotou dois gols, que colaboraram para a vitória por 4 a 2 no placar agregado. Apesar da boa largada, o ano não foi bom e o Real Madrid não ganhou outra taça. Mas a temporada que ficou na história merengue do chileno foi a de 1994-95. Zamorano liderou o Real Madrid ao título da Liga, com 28 gols. Contra o Barcelona, no Santiago Bernabéu, “Bam Bam” marcou três vezes e ainda participou dos outros dois gols do 5 a 0 madridista. Ao final da competição, o camisa nove recebeu o prêmio de melhor jogador estrangeiro da Liga e ainda ganhou o troféu Pichichi, dado ao artilheiro do campeonato.
Após mais um ano em Madrid, Zamorano chegou à Itália. Acostumado a sempre balançar as redes muitas vezes, no lado azul e preto de Milão, não foi assim. Mas com a raça peculiar e marcando gols em momentos importantes, o chileno fez Massimo Moratti ter orgulho do investimento realizado. Porém, no primeiro ano, o novo contratado foi um dos protagonistas de uma grande desilusão nerazzurra. Impulsionada pelos gols de Maurizio Ganz, a Inter alcançou a final da Copa Uefa, onde enfrentou o Schalke 04. Na segunda partida, Zamorano fez o 1 a 0, que garantiu que o título fosse decidido em penalidades. O chileno foi o primeiro a cobrar pela Inter e perdeu. O erro foi fundamental para a vitória dos alemães.
Um ano depois da chegada de “Bam Bam”, a Inter fechou com outro centroavante de renome do futebol espanhol, o também sul-americano Ronaldo, que jogava no Barcelona. No primeiro ano da dupla de ataque da América do Sul, o chileno conseguiu seu único título na Itália, com uma redenção. A Copa Uefa 1997-98 veio com Ronaldo em grande destaque, mas, na final contra a Lazio, Zamorano marcou um dos dois gols que anotou na competição. O duelo entre os italianos terminou com vitória interista por 3 a 0, quando o brasileiro e Zanetti também balançaram as redes.
Na temporada seguinte, a Inter contratou a estrela italiana, Roberto Baggio, por isso, Ronaldo, que, à época, vestia a camisa dez passou o número para o novo craque nerazzurro. E, no início dos jogos, foi o brasileiro que surgiu com a nove, que habitualmente estampava as costas do chileno, que utilizou o inusitado 1+8. Com isso, muito se especulou que havia uma crise entre os centroavantes sul-americanos, porém, em recente entrevista, Zamorano explicou o caso mais uma vez. “Ronaldo havia perdido a Copa do Mundo de 1998 e ele era muito amigo meu, por isso, com a chegada de Baggio, optei por passar a nove para ele, como um gesto de carinho”.
A opção pelo 18/1+8 deu certo, pois a camisa foi muito vendida e, segundo “Bam Bam”, no futebol italiano, nenhuma outra conseguiu superar a vendagem dela. Além disso, a temporada 1998-99 foi a que Zamorano mais marcou gols pela Inter: 14 ao todo. Durante o período de Itália, o atacante viveu seus melhores momentos na seleção chilena. Ao lado de Marcelo Salas, que também jogou no Belpaese, por Lazio e Juventus, formou o ótimo ataque Za-Sa. Com a dupla, depois de ficar 18 anos fora de Copas, o Chile foi ao Mundial de 1998 e parou no Brasil, nas oitavas de final. O último grande ato de Zamorano foi na Olimpíada de 2000, quando, com seis gols, foi artilheiro e liderou a Roja à medalha de bronze.
Com número curioso, Zamorano marcou sua passagem na Inter com gols, carisma e raça (imago/Alternate)
Depois do grande ano, entre 1999 e 2001, o rendimento do atacante foi caindo, o que fez com que ele optasse pela saída do clube. Por isso, após 14 anos de muitos gols na Europa, foi jogar no América do México, onde, em dois anos, marcou 36 gols, sendo nove deles no incrível título mexicano em 2002. As Águilas se classificaram em oitavo lugar para o mata mata e, a partir daí, foram derrubando adversários melhores colocados para conseguirem a nona taça da competição. Um ano depois, Zamorano foi realizar um sonho do pai e optou por jogar no Colo-Colo, o clube do coração de pai e filho, e, ainda por cima, sem receber salários.
Pelo maior campeão chileno, “Bam Bam” não foi muito bem. Balançou as redes oito vezes em 14 partidas e acabou encerrando a passagem pelo Cacique, por conta de um problema disciplinar. Na final do torneio Apertura de 2003, Zamorano agrediu o árbitro do confronto com o Cobreloa, após ele ter validado um gol claramente em impedimento. O Colo-Colo perdeu a partida e o atacante, por ter sido suspenso por 16 jogos, optou pelo fim da trajetória brilhante. Até hoje, com 327 gols oficiais, Zamorano é segundo chileno com mais gols na história do futebol mundial, apenas atrás apenas de Osvaldo Castro.
Após encerar a carreira, Zamorano segue muito ligado ao futebol e, na Copa do Mundo 2014, veio ao Brasil para fazer algumas aparições na ESPN Brasil como comentarista. Além disso, em seu país natal, o ex-jogador é muito atuante em causas sociais e é um dos principais embaixadores do Teletón chileno.
Iván Zamorano
Nascimento: 18 de janeiro de 1967, em Santiago, Chile
Posição: atacante
Clubes: Cobresal (1983-88), Cobreandino (1985-86), St. Gallen (1988-90), Sevilla (1990-92), Real Madrid (1992-96), Internazionale (1996-01), América do México (2001-02) e Colo-Colo (2003).
Títulos: Segunda Divisão chilena (1985), Copa Chile (1987), Copa do Rei (1992-93), Supercopa da Espanha (1993-94), Liga Espanhola (1994-95), Copa Uefa (1997-98) e Campeonato Mexicano (2002).
Seleção chilena: 69 jogos e 34 gols