Brasil Índice
Após a mudança de regime de 1889 ter levado a uma década de agitação e ajuste doloroso, as revoltas de 1930 também o fizeram. O presidente provisório Getúlio Dorneles Vargas governou como ditador (1930-34), presidente eleito congressionalmente (1934-37), e novamente ditador (1937-45), com o apoio de sua coalizão revolucionária. Ele também serviu como senador (1946-51) e presidente eleito popularmente (1951-54). Vargas era um membro da oligarquia de terras gaúchas e tinha se levantado através do sistema de clientelismo e clientelismo, mas ele tinha uma nova visão de como a política brasileira poderia ser moldada para apoiar o desenvolvimento nacional. Ele entendeu que com a quebra das relações diretas entre trabalhadores e proprietários nas fábricas em expansão do Brasil, os trabalhadores poderiam se tornar a base para uma nova forma de poder político – o populismo. Usando tais insights, ele iria gradualmente estabelecer tal domínio sobre o mundo político brasileiro que ele iria permanecer no poder por quinze anos. Durante esses anos, a preeminência das elites agrícolas terminou, novos líderes industriais urbanos adquiriram mais influência nacional e a classe média começou a mostrar alguma força.
Tenentismo , ou a rebelião dos tenentes contra o exército e as hierarquias governamentais, desvaneceu-se como um movimento distintivo depois de 1931, em parte porque seus aderentes promoveram a preservação da autonomia do Estado quando a tendência para a crescente centralização era forte. Os tenentes individuais continuaram a exercer papéis importantes, mas fizeram a sua paz com as forças políticas tradicionais. Em 1932, São Paulo, cujos interesses e orgulho sofreram sob o novo regime, revoltou-se. A guerra civil de três meses viu muitos oficiais que haviam perdido em 1930 ou estavam descontentes juntarem-se aos paulistas, mas as forças federais os derrotaram.
Uma nova constituição em 1934 reorganizou o sistema político, criando uma legislatura com representantes tanto do estado como do setor social. Ela continha algumas reformas eleitorais, incluindo o sufrágio feminino, um voto secreto e tribunais especiais para supervisionar as eleições. A Assembléia Constituinte elegeu Vargas presidente para um mandato de quatro anos. Entretanto, a tentativa de aproveitar a revolução para o velho sistema, um pouco remodelado, logo falharia completamente e levaria o Brasil a uma ditadura prolongada. A esquerda ajudou nesse processo, tornando-se uma ameaça credível. Sob instruções mal orientadas de Moscou, baseadas na desinformação do Brasil, os comunistas brasileiros, liderados por um antigo tenente, encenaram uma revolta em 1935, mas ela foi rapidamente reprimida.
Nos anos 30, as elites civis temiam que o Brasil sofresse uma guerra civil semelhante à da Espanha, e assim, pela primeira vez na história brasileira, eles apoiaram um exército forte e unificado. O Estado Novo deu ao exército seu desejo de longa data de controlar as unidades da Polícia Militar (Policia Militar) do estado. As elites das antigas pátrias estaduais renunciaram ao seu poder militar independente em troca da proteção federal de seus interesses. Esse processo nem sempre foi de bom grado, como mostrou a revolta paulista de 1932, mas o monopólio federal da força militar escalou o poder do governo central para níveis até então desconhecidos. Um ponto de viragem significativo na história do Brasil havia sido alcançado.
A partir do Estado Novo, a autonomia estadual terminou, funcionários federais nomeados substituíram os governadores, e o patrocínio fluiu do presidente para baixo. Todos os partidos políticos foram dissolvidos até 1944, limitando assim as oportunidades para uma oposição se organizar. No processo, Vargas eliminou as ameaças da esquerda e da direita. No nível local, os “coronéis” sobreviveram declarando sua lealdade e aceitando sua parte de clientelismo para distribuição aos seus próprios subordinados. Os anos Vargas tiveram o seu maior impacto na política e economia nacional e o seu menor impacto a nível local, onde as formas mais antigas de poder continuaram até aos anos 50. Mesmo nos anos 90, os chefes políticos locais foram rotulados de “coronéis”. Vargas teve o cuidado de absorver as elites rurais e comerciais em sua base de poder. Ele tinha a capacidade de fazer antigos inimigos partidários, ou pelo menos neutros.
Os anos Vargas assistiram à reorganização das forças armadas, da economia, do comércio internacional e das relações exteriores. O governo restaurou o antigo palácio imperial em Petrópolis e incentivou a preservação de edifícios e cidades históricas. O aumento médio anual do produto interno bruto (PIB – veja Glossário) foi de quase 4%. A primeira siderúrgica brasileira em Volta Redonda (1944) foi o início da grande produção industrial da segunda metade do século. A era 1930-45 acrescentou o corporativismo (ver Glossário) ao léxico político brasileiro.
Even enquanto canalizava investimentos para a indústria, o Estado Novo classificou as greves como crimes e agrupou os sindicatos controlados pelo governo em federações setoriais separadas que não eram autorizadas a formar organizações nacionais transversais. A idéia era manter as linhas de controle verticais (integração vertical – ver Glossário). O governo decretou aumentos regulares de salários e benefícios e lentamente expandiu um sistema de segurança social incompleto. Os seus níveis salariais mínimos nunca foram satisfatórios. A propaganda do regime tocou o paternalismo e a proteção do Estado e retratou Vargas como o benfeitor das classes trabalhadoras. Ele também era o benfeitor dos donos das fábricas, que viram a indústria se expandir 11,2% ao ano durante a década de 1930, o que significou que ela mais do que dobrou durante a década. De fato, o crescimento e a repressão foram as ordens gêmeas da época. Jornalistas e romancistas eram censurados, presos e desencorajados. O exército restringiu o acesso às escolas militares àquelas com características raciais, familiares, religiosas, educacionais e políticas aceitáveis.
Como resultado dessas medidas repressivas, da suspensão das atividades políticas, e do apoio do governo ao rearmar e modernizar os militares, o exército ganhou uma coerência e unidade que não experimentava desde antes de 1922. O status popular que o exército ganhou ao participar da campanha italiana (1944-45) da Segunda Guerra Mundial também permitiu ao Alto Comando, sob o comando do general Pedro Aurélio de Góes Monteiro, há muito tempo apoiador de Vargas, entrar na crise sucessória de outubro de 1945 para depor Vargas e cortar a mobilização política das massas que os generais acreditavam que iria perturbar a ordem social. Não ter agido teria violado o acordo implícito feito com as elites quando estas entregaram suas forças militares estaduais independentes ao controle federal.
O governo eleito sobre o qual o presidente Eurico Gaspar Dutra presidiu de 1946 a 1951 abriu sob o decreto-lei do Estado Novo e continuou sob a nova constituição de 1946. Esta carta reflete a forte tendência conservadora na política brasileira ao incorporar idéias da Constituição de 1934 e da legislação social do Estado Novo. Durante os anos seguintes, as várias mudanças de governo traçaram o movimento constante do governo em direção à direita. O governo Dutra foi apoiado pelo mesmo exército intervencionista conservador que havia apoiado o regime anterior. De fato, Dutra, que apesar de aposentado do serviço ativo, foi inaugurado com seu uniforme e foi promovido a general do exército e depois a marechal enquanto no cargo, fez questão de dizer que ainda pertencia à classe militar, que não negligenciaria suas necessidades e que guiaria o exército politicamente.
Mais observadores desapaixonados vêem o fim da liderança produtiva de Vargas – durante a qual o aumento médio anual do PIB foi de quase 4% – como a reação da elite latifundiária e empresarial aliada à classe média urbana contra os processos de mudança. Os anos de mandato da Dutra mostraram um nível mínimo de participação e intervenção do Estado na economia. Foi realmente irônico que o homem que conduziu o Brasil através dos primeiros passos da sua “experiência de democracia” fosse um general que, nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, era tão antiliberal que se opôs ao alinhamento do Brasil com os países democráticos contra a Alemanha nazista. Ele era um fervoroso anticomunista, que rapidamente rompeu os laços diplomáticos que Vargas havia estabelecido com a União Soviética, baniu o Partido Comunista Brasileiro e apoiou os Estados Unidos nas fases iniciais da Guerra Fria. Ele trocou visitas oficiais com o presidente Harry S. Truman e procurou ajuda americana para o desenvolvimento econômico contínuo.
O governo de Dutra melhorou as ferrovias, concluiu a construção de estradas que ligavam o Rio de Janeiro a Salvador e São Paulo, e expandiu os sistemas de geração e transmissão elétrica. Também cooperou com os estados na construção de mais de 4.000 novas escolas rurais e apoiou a construção de novos edifícios universitários em vários estados. Em 1951 criou também o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), que seria importante no desenvolvimento das capacidades e faculdades universitárias nas próximas décadas (ver Ciência e Tecnologia como Modernização, 1945-64, cap. 6). Seu mandato foi marcado por disputas acaloradas sobre a nacionalização do petróleo e planos para um instituto internacional para estudar a Amazônia. Os últimos foram arquivados em meio a acusações emocionais de que levariam à perda da metade do território nacional; e a campanha pela primeira foi violentamente reprimida.
O programa militar da Dutra incluiu a produção doméstica de armas, o envio de muitos oficiais para treinamento nos Estados Unidos, a expansão da força aérea e das escolas navais e a modernização de seus equipamentos, e a criação da Escola Superior de Guerra (Escola Superior de Guerra–ESG), que desempenhou um papel tão importante nas crises políticas dos anos 60. Embora Dutra pudesse ser criticado por não conter a inflação e por permitir um frenesi importador que logo esgotou as economias dos anos de guerra, ele conseguiu governar sem declarar estado de sítio, e foi o primeiro presidente eleito desde 1926 a passar o cargo para seu sucessor eleito.
Como candidato a presidente nas eleições de 1950, Vargas defendeu a aceleração da industrialização e a expansão da legislação social, e foi recompensado com 49% dos votos. As tentativas de Vargas de basear seu governo eleito (1951-54) firmemente no populismo induziram os militares, as elites e os Estados Unidos a temerem o nacionalismo. Mesmo assim, foi um período de aprofundamento da polarização política. Oficiais militares anticomunistas viram vermelho em cada tentativa de expandir a influência do trabalho e objetaram aumentos salariais para os trabalhadores quando o valor de seus próprios salários estava em constante erosão. Os Estados Unidos recusaram a assistência econômica que os líderes brasileiros acreditavam merecer por fornecer bases, recursos naturais e tropas durante a Segunda Guerra Mundial. A falta de benefícios do pós-guerra, especialmente para o serviço da Força Expedicionária Brasileira (Força Expedicionária Brasileira – FEB), fez com que Vargas e parte dos militares rejeitassem a idéia de enviar tropas para combater na Coréia.
Embora o governo dos Estados Unidos não quisesse fornecer ajuda econômica, também não queria que o governo brasileiro assumisse um papel ativo no desenvolvimento dos recursos do país. O desejo de Washington de assegurar o Brasil como um lugar seguro para o investimento privado dos Estados Unidos colidiu com o tratamento dado pelo Brasil às empresas de serviços públicos de propriedade estrangeira. Os interesses estrangeiros haviam sido muito lentos no desenvolvimento dos recursos energéticos, então o governo Vargas criou a Companhia Brasileira de Petróleo Brasileiro S.A.–Petrobrás em 1953 e a Companhia Brasileira de Energia Elétrica (Centrais Elétricas Brasileiras S.A.–Eletrobrás) em 1961. A campanha “Petróleo é Nosso!” dos nacionalistas provocou discussões no seio dos militares sobre o que era melhor fazer. Alguns oficiais abraçaram a atitude antiestistatistatista que Washington estava patrocinando. O debate amargurado e emocional sobre a criação da Petrobrás envenenou a vida política e contribuiu para as intervenções militares subsequentes. O governo Vargas se dissolveu em frustração e acusações de corrupção; diante das exigências militares por sua demissão, Vargas atirou em 24 de agosto de 1954. Sua morte produziu considerável simpatia pública, o que, por sua vez, fortaleceu sua reputação de “pai dos pobres”. Sua influência na política brasileira foi sentida por décadas.