Efeitos da Suplementação Oral de Vitamina C na Ansiedade dos Estudantes: Um Ensaio Duplo-Blind, Randomizado, Placebo-Controlado

INTRODUÇÃO

Vitamina C (ácido ascórbico) é um antioxidante envolvido em estudos de ansiedade, memória, fadiga e estado de humor. Alguns animais, incluindo humanos, não conseguem sintetizar o ácido ascórbico devido à falta da enzima L-glulonolactona oxidase (Naidu, 2003). Muitos estudos têm mostrado que a vitamina C está relacionada ao comportamento ansioso e psicológico desencadeado por situações estressantes. O tratamento durante 14 dias com doses elevadas de vitamina C (1.000 mg três vezes por dia) diminuiu a pressão arterial, baixou o cortisol e reduziu as respostas subjectivas associadas ao stress psicológico agudo (Brody et al., 2002). Os níveis de concentração plasmática de vitamina C têm sido inversamente associados à pressão arterial sistólica e diastólica em estudos transversais (Ness et al., 1997; Bates et al., 1998). Mazloom et al. (2013) avaliaram os efeitos de dois antioxidantes (vitaminas C e E) na ansiedade, depressão e estresse em pacientes diabéticos do tipo 2. O grupo de vitamina C mostrou uma diminuição significativa nos escores de ansiedade em comparação com vitamina E e placebo, entretanto, não foram encontradas diferenças significativas entre os grupos para escores de depressão ou estresse.

Mais recentemente, outro estudo clínico conduzido por Aburawi et al. (2014) investigou o efeito da vitamina C como tratamento para depressão e sua ação associada com antidepressivos, tais como paroxetina, fluoxetina, clomipramina, fluvoxamina e a combinação de olanzapina e clomipramina. Os autores concluíram que a combinação de vitamina C com antidepressivos resultou em uma melhor resposta terapêutica para a depressão. Da mesma forma, Amr et al. (2013) também demonstraram a eficácia da adição de vitamina C à fluoxetina como coadjuvante no tratamento de distúrbios depressivos graves em pacientes pediátricos. Além disso, numerosos estudos de modelos animais de depressão demonstraram os efeitos antidepressivos da vitamina C (Binfare et al., 2009; Moretti et al., 2011, 2012a, b, 2013, 2014).

A suplementação com vitamina C produziu resultados inconsistentes para o tratamento da fadiga em humanos. Entretanto, um ensaio clínico conduzido por Suh et al. (2012) obteve resultados positivos. A administração intravenosa de vitamina C diminuiu a fadiga em trabalhadores de escritório em duas horas e os níveis de fadiga permaneceram mais baixos por um dia. Os trabalhadores na condição experimental também apresentaram níveis mais altos de vitamina C plasmática e reduziram o stress oxidativo em comparação com o grupo placebo. Para os trabalhadores deste estudo, a suplementação com vitamina C provou ser um método seguro e eficaz para reduzir a fadiga. Além disso, estudos indicaram uma alta prevalência de hipovitaminose C e D em hospitais de cuidados agudos. A administração de vitamina C melhora o humor e reduz a angústia em pacientes hospitalizados (Evans-Olders et al., 2010; Wang et al., 2013; Zhang et al., 2011).

Ansiedade é uma resposta a uma ameaça desconhecida, vaga ou interna que pode alterar sinais fisiológicos (Gautam et al., 2012). Portanto, a ansiedade tipicamente serve uma função adaptativa e prepara um indivíduo para um perigo potencial, alertando uma pessoa para estar preparada para uma ameaça iminente (Gautam et al., 2012; Weinberger, 2001). Entretanto, quando a ansiedade é extremamente elevada e persistente, ela pode se tornar patológica e atender a critérios de desordem (Weinberger, 2001). Para muitos indivíduos, a ansiedade também está associada a problemas secundários, tais como falta de autoconfiança ou, para os estudantes, dificuldades acadêmicas (Guney et al., 2014). Além disso, para os alunos, outros sintomas podem ser expressos na sala de aula e contribuir para o baixo desempenho acadêmico, tais como: pânico, medo de falhar nos exames, nervosismo e incapacidade de realizar tarefas e batimentos cardíacos acelerados (Vitasari et al., 2011). Os altos níveis de ansiedade podem prejudicar a memória de trabalho e aumentar a distractibilidade dos alunos (Aronen et al., 2005; Cassady e Johnson, 2002). Outras pesquisas mostraram que estudantes com níveis de ansiedade aumentados durante seus exames de fim de semestre tendem a obter notas mais baixas (Hamzah, 2007). A ansiedade foi o principal preditor do desempenho académico entre os estudantes (McCraty, 2007) e o aumento dos níveis de ansiedade pode estar associado a um desempenho académico inferior (Mazzone et al., 2007; Sena et al., 2007).

O stress oxidativo pode contribuir para a fisiopatologia dos distúrbios de ansiedade (Guney et al., 2014; Ranjana et al., 2012). Presentes demonstraram que existem associações entre os níveis totais de oxidantes/antioxidantes e distúrbios de ansiedade em crianças e adolescentes (Guney et al., 2014). Isto sugere que o estresse oxidativo pode ser prejudicial em crianças e adolescentes com transtornos de ansiedade. Nesse sentido, o alto consumo de oxigênio que ocorre no cérebro e sua constituição lipídica (Halliwell, 2006; Ng et al., 2008) pode contribuir para o estresse oxidativo e isso pode promover ou desencadear distúrbios psiquiátricos (Bouayed et al., 2009; Hovatta et al., 2010). Entre outros fatores como genética, neuroquímica, neurobiologia e psicologia, o estresse oxidativo pode ser um fator importante para a etiopatogenia dos transtornos de ansiedade (Guney et al., 2014). Outros estudos também encontraram uma ligação entre o estresse oxidativo e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e o Transtorno de Pânico (DP), indicando ainda que o metabolismo oxidativo pode afetar a regulação da ansiedade (Kuloglu et al., 2002a, b). Para combater tais alterações neuroquímicas, os sistemas biológicos estão equipados com defesas antioxidantes. Portanto, a suplementação antioxidante pode desempenhar um papel terapêutico importante no combate ao estresse oxidativo em indivíduos que sofrem de ansiedade (Gautam et al., 2012).

O objetivo deste estudo foi avaliar se um antioxidante importante como a vitamina C exerce um efeito semelhante ao da ansiedade em estudantes do ensino médio. Os níveis de ansiedade dos alunos foram avaliados por um instrumento validado conhecido como Beck Anxiety Inventory que permitiu investigar o potencial papel terapêutico da vitamina C no comportamento cognitivo humano relacionado à ansiedade.

MATERIAIS E MÉTODOS

Participantes: Estudantes do ensino médio de ambos os sexos de Ceilândia, Distrito Federal, Brasil, foram convidados a participar deste estudo. Todos os participantes foram informados sobre os detalhes do estudo e assinaram formulários indicando seu consentimento informado. O protocolo experimental e as avaliações de ansiedade estão de acordo com a Declaração de Helsinque e o Guia de Boas Práticas Clínicas e foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília, sob o número 022/12.

Critérios de inclusão e exclusão: Foram incluídos todos os alunos em boa saúde física. Não houve histórico de tabagismo entre os participantes. Os estudantes foram excluídos se estavam grávidas, tomando regularmente suplementos de vitamina C ou medicamentos prescritos, tomando regularmente medicamentos restritos (pacientes psiquiátricos), ou se tinham histórico de doença incluindo: condições psiquiátricas, diabetes, hipertensão, problemas cardíacos, pulmão, predisposição a doenças renais, bem como condições relacionadas à desnutrição: raquitismo, baixo peso corporal para sua idade e problemas mentais.

Procedimentos experimentais: Quarenta e dois alunos foram recrutados e designados aleatoriamente (n = 21 para cada grupo) para receberem vitamina C ou placebo. Não houve desistências. Os participantes tomaram cápsulas de placebo ou cápsulas de 500 mg de vitamina C todos os dias durante 14 dias. Apenas o nutricionista responsável pela monitorização e distribuição das cápsulas estava, ciente da composição das cápsulas. Os estudantes foram avaliados por uma equipe multidisciplinar com experiência em bioquímica, nutrição, psicologia e neurociência. A equipe realizou entrevistas com todos os alunos. Os alunos foram informados sobre a finalidade e os procedimentos do estudo. O primeiro dia da experiência começou às 8:00 da manhã com a recepção dos alunos no laboratório, onde eles receberam um kit de um nutricionista contendo cápsulas de placebo ou vitamina C. As cápsulas de vitamina C e placebo foram obtidas em Farmácia de Medicamentos, Brasília, Distrito Federal, Brasil (Pharmacotechniques). As cápsulas de placebo eram idênticas em aparência às cápsulas de vitamina C (tanto nas cores verde como branca). Em seguida, a pressão arterial sistólica e diastólica e a frequência cardíaca dos alunos foram medidas e foram coletadas amostras de sangue (5 mL). Todos os alunos foram informados que a colheita de amostras de sangue requeria oito horas de jejum e que a colheita de sangue começaria às 9:00 da manhã. Os procedimentos foram conduzidos pela equipe do Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (LACEN-DF), utilizando recomendações da Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal, Brasil. A coleta de sangue terminava às 10h00 e todas as amostras eram preparadas para serem encaminhadas ao LACEN-DF para análise. Após a coleta de sangue, foi oferecido café da manhã aos alunos e à equipe. Os alunos foram então avaliados pelo psicólogo da equipe em ordem aleatória com o BAI, um teste neuropsicológico de ansiedade. Estes testes, no dia 1, constituíram as medidas de base. Estes procedimentos experimentais foram repetidos em 15 dias (pós-tratamento), após a suplementação.

Medições de pressão de sangue: Antes da coleta das amostras de sangue, a pressão arterial sistólica e diastólica e a frequência cardíaca dos alunos foram registradas com um esfigmomanômetro portátil auto-insuflável automático (Powerpack MS-918). O procedimento foi repetido no 15º dia (pós-tratamento).

Amostras de sangue e procedimentos laboratoriais: A concentração de ácido ascórbico plasmático foi inicialmente baseada na oxidação do ácido ascórbico pelos ácidos diquetogulónico e desidroascórbico. Estes produtos reagem com 2,4-dinitrofenilidrazina para formar 2,4-dinitrofenilidrazona. Este composto, após reagir com ácido sulfúrico (H2SO4), forma um produto com uma banda de absorção que pode ser medida a 520 nm. Neste estudo, a concentração de ácido ascórbico no plasma foi avaliada seguindo o protocolo proposto por Bessey (1960) com metodologia semelhante aos estudos anteriores (Marim et al., 2012; Garlipp-Picchi et al., 2013). Amostras de sangue venoso (5 mL) foram coletadas de todos os alunos com uso de agulha hipodérmica. Uma solução de 100 mL contendo 2,4-dinitrofenilidrazina (2%), tioureia (5%) e sulfato de cobre (0,6%), DTC foi preparada. Imediatamente após, uma amostra de 0,4 mL (soro) foi retirada e adicionada a 1,6 mL de ácido tricloroacético (TCA) a 5% durante 30 seg. e centrifugada a 2.500 rpm durante 10 min. Em seguida, 0,2 mL de reagente DTC foi adicionado a 0,6 mL de sobrenadante e a solução foi subsequentemente agitada durante 30 seg. Este procedimento foi realizado em triplicado. Para completar a solução padrão, foi adicionado 1 mL de 65% H2SO4 e as amostras foram agitadas durante 30 seg. Após 30 min, em proteção à luz, a leitura foi feita em um espectrofotômetro (SpectraMax M5, Molecular Devices) a 520 nm. A concentração de ácido ascórbico no plasma foi calculada usando uma curva de calibração.

Teste de comportamento de ansiedade: O Beck Anxiety Inventory (BAI) foi projetado por Beck, Brown, Steer e Epstein em 1986 (Beck et al., 1988; Cunha, 2001). Vinte e um itens foram desenhados para refletir os sintomas somáticos, afetivos e cognitivos característicos da ansiedade. Este inventário foi construído para evitar confusão com os sintomas da depressão. As notas entre 8 e 15 são interpretadas como ansiedade leve, entre 16 e 25 como ansiedade moderada e entre 25 e 63 como ansiedade severa.

Análise estatística: O programa Graph Pad Prism foi usado para construir figuras para este experimento. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o IBM SPSS versão 20.0 para Windows (IBM Corp. NY, USA). Os dados são expressos como Meios±Desvio Padrão (SD). Para avaliar a normalidade das distribuições das variáveis, foram realizados testes de Kolmogorov-Smirnov. Quando os resultados foram distribuídos normalmente, as diferenças entre os grupos foram avaliadas através de testes t paramétricos de estudantes. Quando os resultados não foram distribuídos normalmente, foram utilizados testes não paramétricos de Wilcoxon assinados e teste Mann-Whitney U. As variáveis categóricas foram analisadas por meio dos testes qui-quadrado. Os níveis de significância foram definidos em p<0,05,

RESULTADOS

As características demográficas dos alunos estão resumidas na Tabela 1. A idade média do grupo vitamina C foi de 30,43±14,35 anos e a idade média do grupo controle com placebo foi de 24,24±11,07 anos. Um teste t dos estudantes indicou que não houve diferença entre o grupo vitamina C comparado ao grupo controle com placebo (p = 0,125). Não houve diferença entre os sexos (p = 1.000). As avaliações de altura, peso e Índice de Massa Corporal (IMC) não revelaram diferenças significativas entre os grupos de vitamina C comparados ao placebo; em resumo, os dois grupos não diferem entre si quanto às características descritivas.

Os escores médios de ansiedade, concentração plasmática de vitamina C, pressão arterial sistólica, pressão arterial diastólica e frequência cardíaca são mostrados na Tabela 2, tanto na linha de base como após a intervenção experimental (pós-tratamento). Um teste assinado por Wilcoxon revelou que houve uma diminuição significativa entre o grupo de vitamina C pós-tratamento em comparação ao tratamento basal (p = 0,010). Como mostrado na Fig. 1, os escores de ansiedade após a intervenção foram significativamente mais baixos para o grupo de vitamina C do que para o grupo controle com placebo (p = 0,010), indicando que os suplementos orais de vitamina C melhoraram os níveis de ansiedade dos estudantes. A concentração de vitamina C no plasma foi maior no grupo de vitamina C do que no grupo placebo após o período de intervenção (p = 0,001).

Tabela 1: Características demográficas dos participantes do estudo(1) grupo (n = 21)
N: Nº de participantes, IMC: Índice de Massa Corporal, 1Todos os valores são Means±SDS, 2Students t-test, 3Chi-square test e 4Mann-Whitney U test

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Tabela 2: Ansiedade pontuação base e pós-tratamento ou suplementação de vitamina C ou placebo, parâmetros bioquímicos e fisiológicos ou perfis(1)
BAI: Inventário de ansiedade Beck, PCVC: Concentrações plasmáticas de vitamina C, SBP: Pressão arterial sistólica, DBP: Pressão arterial diastólica, FC: Frequência cardíaca, Pós, refere-se após o tratamento de 14 dias, 1Todos os valores são Meios±SDS, 2Wilcoxon assinados- teste

Fig. 1: Efeitos da vitamina C ou placebo sobre a ansiedade avaliada pelo BAI, Box plots de resultados de ansiedade dos alunos nos grupos de vitamina C (n = 21) e placebo (n = 21). Linha de base e ansiedade pós-tratamento avaliada pelo BAI em ambos os grupos. (p = 0,010) foram calculados usando o teste de Wilcoxons assinado. Post, refere-se a após o tratamento de 14 dias

Likewise, houve uma diferença significativa na frequência cardíaca média do grupo da vitamina C em comparação com o grupo de controlo de placebo (p = 0,032). Entretanto, não houve diferença significativa entre os grupos vitamina C e placebo tanto no pré- quanto no pós-tratamento na pressão arterial sistólica média (p = 0,933) e diastólica (p = 0,698). Estes resultados sugerem que o grupo experimental de vitamina C teve melhor resposta fisiológica em relação ao grupo controle com placebo, apenas na freqüência cardíaca média, indicam que a vitamina C melhorou este parâmetro que está envolvido com sintomas de ansiedade.

Adicionalmente, em termos de nutrição os estudantes foram avaliados usando dados de recall dietético estão disponíveis na Tabela 3. Em geral, os estudantes foram considerados eutróficos. Não houve diferença entre os grupos vitamina C e placebo nas refeições (p = 0,569); alimentos (p = 0,807) e bebidas (p = 0,816), indicando que os grupos são homogêneos em relação aos aspectos nutricionais.

DISCUSSÃO

O presente estudo avaliou os efeitos da suplementação oral de vitamina C sobre a ansiedade em estudantes do ensino médio. A vitamina C mostrou um efeito semelhante ao da ansiedade, como indicado pela redução dos escores de ansiedade do BAI. Além disso, a vitamina C também diminuiu a frequência cardíaca em relação ao placebo. Estes resultados estão de acordo com um estudo anterior que investigou os efeitos de seis semanas de suplementação com vitamina C (1.000 mg por dia) e vitamina E (400 UI por dia) nos níveis de ansiedade, depressão e stress, em pacientes diabéticos do tipo 2. Os resultados deste estudo mostraram que a vitamina C reduziu significativamente os níveis de ansiedade em comparação com a vitamina E e placebo. Em contraste, a vitamina E aumentou significativamente os escores de ansiedade. Da mesma forma, este estudo descobriu que a vitamina C diminuiu significativamente os níveis de stress em comparação com o grupo placebo. Neste sentido, a vitamina C tinha melhorado os níveis de ansiedade em pacientes diabéticos, reduzindo os danos oxidativos no cérebro que tinham causado o comprometimento do sistema nervoso (Mazloom et al., 2013).

Os dados encontrados nesta pesquisa são convergentes em outro estudo que examinou o efeito de uma intervenção projetada para reduzir a ansiedade e melhorar o desempenho acadêmico em estudantes de engenharia (Vitasari et al., 2011). Este estudo utilizou a respiração por minuto (bpm) para medir a ansiedade. Cada estudante recebeu seis sessões de tratamento de duas horas de duração, que consistiram em reeducação respiratória, relaxamento e no estudo das habilidades de lidar com a ansiedade. Os resultados indicaram que todos os participantes tinham reduzido a ansiedade e provavelmente, como consequência, melhoraram o desempenho académico. Este estilo de intervenção, portanto, foi considerado uma abordagem eficaz para reduzir a ansiedade entre os estudantes. Em conjunto, estes resultados sugerem que a suplementação oral com vitamina C pode reduzir os níveis de ansiedade entre os estudantes do ensino secundário e pode melhorar o desempenho académico. Da mesma forma, a vitamina C pode ser um possível tratamento adjunto para a ansiedade.

Ansiedade e depressão são comuns, induzidas pelo estresse, distúrbios psiquiátricos (Gautam et al., 2012). Deficiências de vitamina C podem desencadear sintomas depressivos. Baixos níveis de ácido ascórbico têm sido associados a sintomas depressivos e maiores taxas de mortalidade em pessoas idosas (Hamer et al., 2011). Além disso, Amr et al. (2013) demonstraram que a vitamina C melhorou a eficiência da fluoxetina no tratamento da depressão e, dada a ausência de efeitos adversos substanciais em pacientes pediátricos diagnosticados com distúrbio depressivo grave, pode ser considerada um adjuvante terapêutico atraente. Os autores destacaram a necessidade de estudos clínicos em maior escala para avaliar a eficácia terapêutica da vitamina C no tratamento da depressão e sua ação como adjuvante terapêutico associado a medicamentos antidepressivos (Amr et al., 2013). Estudos epidemiológicos demonstraram que os distúrbios de ansiedade precoce podem contribuir como desencadeadores para o desenvolvimento da depressão e de outros distúrbios de humor que surgem mais tarde na vida (Beesdo et al., 2007; Duffy et al., 2013). Da mesma forma, os distúrbios de ansiedade e de humor estão associados a mecanismos patogênicos envolvidos com a via oxidativa (Guney et al., 2014). Para estes autores a suplementação com vitamina C pode atuar como um antioxidante levando a mudanças bioquímicas e comportamentais, reduzindo a ansiedade, similarmente em mecanismo aos seus efeitos sobre sintomas depressivos, fadiga e estado de humor. Assim, os dados aqui coletados sustentam estas hipóteses.

Em termos de nutrição, há uma demanda adicional no organismo em condição de estresse, como aumento da produção adrenal e mobilização de vitaminas e minerais que aceleram o metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras, ocorrendo produção de energia para normalizar a situação de estresse (Gautam et al., 2012). Existem anormalidades que podem alterar a função do eixo Hipotalâmico-Pituitário-Adrenal (HPA) que está envolvido com respostas ao stress e distúrbios de ansiedade e implicado na resposta emocional (Masood et al., 2008; Mathew et al., 2008). Por exemplo, a exposição crônica ao estresse tem demonstrado desencadear danos oxidativos, ativando o eixo HPA (Aschbacher et al., 2013). Outro estudo descobriu que níveis elevados de ansiedade aumentam significativamente o stress oxidativo (Rammal et al., 2008). Além disso, o estresse oxidativo é uma produção excessiva de radicais livres e falha do mecanismo de defesa antioxidante (McCord, 1993). O déficit de antioxidantes pode diminuir a proteção contra Espécies Reativas de Oxigênio (ROS) e Espécies Reativas de Nitrogênio (RNS) que são altamente reativas e tóxicas causando danos a proteínas, lipídios, carboidratos, DNA e mitocôndrias (Maes et al., 2011; Sindhi et al., 2013). Os antioxidantes neutralizam os efeitos das ROS e exercem ação preventiva de várias doenças (Sindhi et al., 2013). Estes autores sugerem que a suplementação de compostos antioxidantes pode ser uma nova estratégia de prevenção ou redução dos níveis de ansiedade, mas também que indivíduos com distúrbios de ansiedade podem ser deficientes em antioxidantes, com indicações de aumento do estresse oxidativo.

Os resultados deste estudo mostraram que, após a intervenção, o grupo da vitamina C teve uma diminuição da frequência cardíaca em comparação com o grupo do placebo. O neurotransmissor γ-aminobutírico (GABA) está envolvido na regulação cardiovascular. A administração intracerebroventricular de agonistas GABA diminui a pressão arterial e a frequência cardíaca e a vitamina C estimula a ligação 3H-GABA (Grigorev e Neokesariiskii, 1986). Outro estudo encontrou um aumento na pressão arterial e freqüência cardíaca após microinjeção de glutamato no núcleo paraventricular. O antagonista do receptor N-Methyl-D-Aspatate (NMDA) DL-2-amino-5- ácido fosfonovalérico (AP-5) bloqueou estas respostas (Li et al., 2006). Em contraste, um alto nível de ansiedade traumática indicado por uma freqüência cardíaca elevada desencadeia um aumento da liberação de catecolaminas (Aburawi et al., 2014). O ácido ascórbico pode modular a atividade catecolaminérgica e diminuir as reações de estresse (Aburawi et al., 2014). Esta hipótese é baseada em vários achados. O ácido ascórbico tem sido descrito como um fator regulador do NA+/K+-ATPase através da modulação das catecolaminas. Ele também atua na rotação dos neurotransmissores no sistema nervoso central (Wiglusz et al., 1983), demonstrado por um estudo no qual o TOC foi tratado com vitamina C (Jorm et al., 2004). Da mesma forma, a vitamina C pode reduzir a ansiedade e aliviar o estresse, seja estimulando a ligação GABA e bloqueando a função do canal NMDA (Rebec e Pierce, 1994), ou agindo através da ativação dos sistemas dopaminérgico e glutamatégico (Aburawi et al., 2014). A redução dos níveis de ansiedade pode ser associada à diminuição das freqüências cardíacas, que são indicativas de diminuição da liberação de catecolaminas. Como sugerido anteriormente, o ácido ascórbico pode modular a atividade catecolaminérgica e, consequentemente, pode ser responsável por essa diminuição da freqüência cardíaca encontrada em nosso estudo.

Bruno et al. (2012) investigaram o efeito da administração aguda de vitamina C na atividade simpática muscular e no equilíbrio simpático cardíaco em pacientes hipertensos, a vitamina C foi capaz de reduzir o drive adrenérgico cardiovascular em pacientes hipertensos, o que indica que o estresse oxidativo pode contribuir para a ativação simpática na hipertensão. Portanto, este estudo sugere que os antioxidantes podem ser capazes de restaurar o controle vagal da freqüência cardíaca. Além disso, foi demonstrado que altas doses de vitamina C reduzem a pressão arterial sistólica e diastólica, estresse subjetivo e respostas ansiosas a um estresse psicológico interpessoal agudo e, após o estresse, a vitamina C promove uma recuperação mais rápida do cortisol salivar (Brody et al., 2002). Entretanto, os resultados do presente estudo não sugerem diferenças significativas na pressão arterial (sistólica e diastólica) entre o grupo vitamina C e o grupo placebo, embora os participantes deste estudo não tivessem histórico de hipertensão arterial. A vitamina C diminuiu significativamente a pressão arterial em pacientes hipertensos, mas não em indivíduos normotensos (Bruno et al, 2012) que foram semelhantes aos resultados encontrados no presente estudo, já que a vitamina C foi administrada a estudantes normotensos do ensino médio.

Além disso, os dados aqui apresentados estão de acordo com os resultados encontrados por Brody et al. (2002) que mostraram que os níveis plasmáticos de vitamina C aumentaram significativamente para o grupo de vitamina C (de uma média de 1,55-2,65 mg dL‾1), mas não para o grupo placebo (de uma média de 1,36-1,40 mg dL‾1). Além disso, o tratamento com vitamina C aumentou os níveis plasmáticos de vitamina C no sangue, sugerindo que a deficiência de vitamina C está envolvida com anormalidades psicológicas (Chang et al., 2007; Kinsman e Hood, 1971). Além disso, outro estudo descobriu que há um aumento na concentração plasmática de vitamina C em cerca de 50% após a suplementação com vitamina C na dose de 500 mg day‾1 durante oito semanas (Khassaf et al., 2003) e também a meia-vida média de vitamina C em adulto é de cerca de 10-20 dias (Naidu, 2003). Assim, esses resultados são semelhantes ao estudo atual (Tabela 2).

Em pesquisas futuras, estudos adicionais devem ser feitos para avaliar mudanças nos parâmetros de estresse oxidativo sérico em pacientes com ansiedade ou outros distúrbios neuropsiquiátricos e investigar a relação entre suplementação com vitamina C, estresse oxidativo e antioxidantes no tratamento dessas condições. A ingestão suplementar de nutrientes como a vitamina C é susceptível de ter impacto nos hábitos alimentares por períodos prolongados, sendo a intensidade do efeito modulada pela frequência e diferentes graus de promoção da saúde, humor e bem-estar, bem como o controlo diferencial dos níveis de ansiedade dos indivíduos.

CONCLUSÃO

Este estudo não só aumenta as evidências de que a vitamina C desempenha um papel terapêutico importante na ansiedade, como também aponta para a possível utilização de antioxidantes na prevenção e redução dos níveis de ansiedade. Os autores recomendam a implementação de programas nutricionais nas escolas secundárias que incluem alimentos saudáveis ricos em micronutrientes como o antioxidante, vitamina C. Recomenda-se também o uso da vitamina C como tratamento adjuvante para a ansiedade e para melhorar o desempenho acadêmico entre os estudantes. Em conclusão, este estudo sugere que uma dieta rica em vitamina C pode ajudar a reduzir os níveis de ansiedade e possivelmente aumentar o desempenho acadêmico entre os estudantes ansiosos.

ACKNOWLEDGMENTS

Os autores gostariam de agradecer aos psicólogos e nutricionistas. Os autores também gostariam de agradecer a toda a equipe do LACEN-DF, pelo seu trabalho multidisciplinar nesta pesquisa.

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