O resultado desta viagem é um roteiro para cinco dias inteiros, em família, na cidade que nunca desilude. Nós optámos por ficar por Manhattan e percorrê-la de norte para sul. Reservámos o último dia para ir a Brooklyn, que está claramente na moda. Além disso, havia uma razão mais importante para atravessarmos a ponte de Brooklyn: a ala feminina da Família Mistério não descansou enquanto não conheceu o bairro do Dan Humphrey do Gossip Girl.
Hotéis não faltam em Nova Iorque, para todos os gostos e carteiras. Quando fomos só os dois, optámos pelo Hudson Hotel que é muito giro e sofisticado, mas os quartos são demasiado pequenos.
Como, desta vez, fomos com as crianças optámos por um hotel mais barato, muito perto da Times Square, o Row NYC. Não é do outro mundo, mas cumpre os mínimos: camas confortáveis equartos grandes a um preço acessível (dão para até quatro adultos). Só a casa-de-banho é que era demasiado pequena, mas enfim, viajar com as crianças tem o seu preço.
Nova Iorque é claramente uma cidade para se passear a pé. Claro que há sítios que são longe e, nesse caso, vale a pena ir de metro, táxi ou uber. Para ter uma ideia, nós andámos uma média de 20 km e cerca de 25 mil passos por dia. Uma loucura para mim, mas o mais incrível é que nem dei pelos quilómetros que andámos! E optámos por duas refeições maiores para não perdermos tempo: o brunch e o jantar.
Connosco resultou na perfeição porque, por mais que nos esforcemos (e púnhamos o despertador para as oito da manhã) nunca conseguimos sair do hotel antes das dez da manhã, para desespero do meu querido Marido Mistério. Se for daquelas pessoas que consegue sair do hotel às oito, esqueça o brunch mas deixe-me erguer-lhe uma estátua.
Dia 1
Como estávamos a apenas um quarteirão, começámos pela famosa e icónica Times Square. As crianças deliraram com os gigantescos anúncios e os néons, tiraram mil e uma selfies e seguimos caminho até à Broadway, só para elas sentirem o ambiente.
Mas o nosso objetivo, no primeiro dia, era começar no Upper East Side e ir descendo.
Foi o que fizemos, passeámos na Madison Avenue e tomámos um delicioso mas caríssimo brunch no clássico Sant Ambroeus, no número 1000 da Madison Avenue, um restaurante-pastelaria que é um misto de Garrett com Versailles, onde comemos umas ótimas tostas de abacate com ovo escalfado enquanto nos entretínhamos a ver os empregados a bajular os clientes habituais, ou seja, os moradores do Upper East Side: desde a senhora com um ar distinto ao oligarca russo de fato de treino, havia de tudo. Uma das nossas filhas ia ficando sem ar quando se cruzou na casa de banho com um dos atores da série 13 Reasons Why, mas felizmente, não desmaiou.
E lá seguimos a passear e a ver as montras da Madison, da Lexington e da Park Avenue. A ala feminina da nossa equipa de futsal sentia-se a Blair Waldorf ou a Serena Van Der Woodsen só que sem cartões de crédito, mas é indiferente, estavam felizes na mesma. Passámos no absurdamente caro Barneys New York e na Ladurée, na Madison, onde cada um teve direito a um mísero macarron e finalmente chegámos ao Central Park.
Ainda lhes quis mostrar o The Plaza Hotel, tentei explicar-lhes que foi palco de inúmeros filmes, entre eles o “Sozinho em Casa 2”, mas eles já estavam longe a correr para o jardim mais famoso de Nova Iorque. Adoraram.
Estava um dia lindo, passeámos, tiraram mil e uma fotografias aos esquilos que andam por lá às centenas, fizeram patinagem no gelo, ouviram artistas de rua, compraram pulseiras a monges budistas para ajudar a construir um templo que desconfio que nunca será erguido, e terminámos no enorme lago onde navegam os casais apaixonados nos românticos barcos a remos, já perto do restaurante The Loeb Boathouse. Este restaurante tem uma vista incrível para o lago, com os arranha-céus de Nova Iorque ao fundo. Se tiver tempo, vale a pena almoçar aqui.
Nós tínhamos o tempo contado e seguimos para a icónica Quinta Avenida.
Fizemos questão de subir à Trump Tower, que hoje em dia tem mais segurança e polícia à porta do que o Empire State Building, mas foi só para mostrar aos miúdos um típico exemplo de novo-riquismo, ostentação e mau gosto. Tudo ali é dourado, tudo ali é too much. Só ficámos mais tempo do que prevíamos porque, para variar, lá dentro há um Starbucks com Wi-Fi.
Na Quinta Avenida foi a loucura: elas doidas com a loja de três andares da Victoria’s Secret, eles ensandecidos com a loja da Apple. O meu querido Marido Mistério deu-lhes meia hora (que rapidamente passou a uma) até que lá os conseguimos arrastar até à imponente Saint Patrick’s Cathedral e ao Rockefeller Center. Só não conseguimos subir, para muita pena minha, ao Top of the Rock, um observatório com uma vista de 360º sobre Manathan, porque já não havia bilhetes para esse dia (tem mesmo de comprar bilhete com antecedência para a hora a que quer ir).
Continuámos pela Quinta Avenida, onde eles se deixaram encantar com as lojas porta sim porta também, sobretudo com as montras sempre espetaculares do Saks Fifth Avenue. Ainda conseguimos arranjar tempo de ir até à maravilhosa Central Station e ao Chrysler Building. Este último não dá para subir até lá cima, mas como fica mesmo ao lado da Central Station, vale a pena espreitar o original topo do edifício.
À noite, fizemos uma surpresa aos miúdos: levámo-los ao Madison Square Garden para assistir a um jogo da NBA dos New York Knicks. Naquele momento fomos elevados ao estatuto de melhores pais do mundo. Adoraram e nós também, porque tudo aquilo é muito mais do que um jogo de basquetebol, é um espetáculo de ritmo, cor e música alucinante. Acabámos por jantar cachorros, nachos e todo o menu hipercalórico que se vendia a cada esquina nos corredores do Madison Square Garden. Uma desgraça para a minha dieta. O que me valeu é que no dia seguinte ia andar mais 20 quilómetros.
Dia 2
Uma dica, em Nova Iorque, há um Le Pain Quotidien em cada esquina, é sempre uma solução segura para tomar o pequeno-almoço ou o brunch. No segundo dia, o meu querido Marido Mistério deu o grito do Ipiranga e proibiu compras, com exceção de uns quilinhos de M&Ms comprados ao peso na mega-loja da marca em Times Square (pense bem se quer levar os seus filhos até dentro daquele jardim da tentação…).
Desconfio que começou a achar que estava a perder o controlo da situação (e estava mesmo!), por isso foi dia de turismo puro e duro: Fomos diretos a Midtown, até ao Empire State Building, mas antes ainda passámos pelo Penelope para um brunch, pois claro.
A vista é deslumbrante e as crianças ficaram encantadas. Havia fila, claro, mas andou relativamente rápido, por isso vale a pena a espera. A sensação que temos é que não conseguimos descobrir qual o melhor ângulo para fotografar, apetece registar tudo. Se estiver frio e vento, prepare-se para uma aventura. Nós apanhámos tanto vento que achei que o meu telemóvel voava e todas as selfies ficaram tremidas (e os nossos filhos têm um doutoramento em selfies!).
A seguir, fomos de uber até Battery Park, mesmo na ponta de Manhattan, para apanharmos o ferry até à Estátua da Liberdade e a Ellis Island. O nosso patriarca estava nas nuvens. Íamos finalmente ter um momento de cultura numa viagem onde as mulheres claramente impunham as regras. Mas uma mulher inteligente sabe que tem de ceder de vez em quando, não é verdade? E esta tour vale mesmo a pena fazer. Não só porque a história da Estátua da Liberdade é gira, mas também porque a vista para o skyline de Manhattan é deslumbrante. Além disso, o museu de Elis Island, onde podemos recordar a forma como os primeiros emigrantes foram recebidos nos EUA, é mesmo obrigatória.
À tarde, já que estávamos em Lower Manhattan, aproveitámos para ir ao Memorial e ao Museu do 11 de Setembro. Foi claramente um dos momentos altos da viagem. É um verdadeiro murro no estômago. O Memorial é de uma dignidade e de uma imponência que nos silencia a alma. No lugar das torres estão dois gigantescos monumentos (com o formato das Twin Towers) com cascatas de água onde estão gravados os nomes das 2.983 vítimas dos atentados às torres gémeas. Estavam lá dezenas de turistas, mas o único som que se ouvia era o da água das cascatas a cair.
O museu é igualmente impressionante. Recorda a vida de cada uma das vítimas dos ataques com uma humanidade e uma simplicidade arrebatadoras. Está lá tudo, ao detalhe. Entrar por aquela porta é reviver ao segundo aquele traumático dia de 2001. Estivemos lá dentro quase três horas, acho que não ouvi nem por um minuto a voz dos nossos filhos. É uma experiência única que vale a pena recordar para nunca mais esquecer.
Saímos ainda a tempo de petiscar umas ostras num centro comercial mesmo ali ao lado chamado Brookfield Place, mas o tirano do meu querido Marido Mistério não cedeu: compras nem pensar (como se tivéssemos poder de compra para aquele shopping!) mas umas ostras e um vinho branco souberam-nos pela vida.
À noite, como não podia deixar de ser, fomos ver um musical. Não vou dizer qual, porque os nossos amigos sabem a qual fomos e tenho medo que nos descubram, mas deixo-vos duas sugestões tão caras quanto imbatíveis: Dear Evan Hansen e Hamilton. Se não conseguir bilhetes para estes disputadíssimos espetáculos, pode sempre comprar com desconto, em cima da hora, no tkts, em Times Square, para os clássicos Cats, Fantasma da Ópera, The Book of Mormons ou o Rei Leão, entre muitas outras opções. Os miúdos adoraram, eu delirei.
Acabámos o segundo dia a jantar num restaurante muito giro e animado, com um ambiente muito cool. Chama-se Catch New York, fica no Meatpacking District, e vale mesmo a pena experimentar: tem um ótimo sushi, bom marisco e também serve brunch.
Bem, já deve estar farto ou farta de me ler e eu tenho de ir trabalhar. Amanhã à mesma hora cá estarei com a segunda parte do nosso roteiro, que a prosa já vai longa e Nova Iorque decididamente merece dois posts. Amanhã, publico o resto do roteiro e a lista dos sítios onde comer e dormir! Só precisa de carregar aqui para continuar a ler.